Autor: Alessandra Caprara
Data: 18/02/2020
Aqui um índice para que você possa se achar no texto. Use e abuse:
Para que os animais comem? – A fome e o apetite
A alimentação do seu animal de estimação é pobre
A cultura do “quanto mais melhor” – quando seu animal de estimação defeca dinheiro
Você já parou pra pensar sobre o porque dos animais comerem? Acho que a resposta pode ser sim e não.
Esse é um tipo de pergunta que acabamos nem fazendo, porque aprendemos sua resposta no dia-a-dia das nossas vidas. Aprendemos que comemos para alimentar nosso corpo. então os animais devem fazer o mesmo, certo?
Sim e não. Claro que os animais (nós somos animais também) se alimentam para se manter vivos. O alimento traz um série de substâncias para dentro do nosso corpo e essas substâncias são quebradas e transformadas em tudo aquilo que precisamos para:
a) construir o corpo todos os dias, pois diariamente nossas células se renovam.
b) obter energia para que nossas células continuem vivendo e fazendo o que devem fazer.
Mas não é só isso! Comer faz parte do comportamento animal. Comer é um ato social, é um ato de relação com o meio externo.
A alimentação começa na escolha, no desejo. A fome gera a necessidade de comer.
Quando a fome é nutricional, ou seja, aquele indivíduo está sem comer há dias e seu corpo já está carente de alimentos, come-se qualquer coisa na busca de satisfazer essa necessidade. A busca é voraz, desesperada. Dependendo da situação, come-se até mesmo membros da própria espécie (não apenas nessa situação, mas vou parar a análise aqui). Você já assistiu ao filme Vivos?
Sugestão de filme: Vivos 1993, de Frank Marshall
Aviso de spoiler:
Pois é, Vivos conta a história de um acidente aéreo nos Andes. Depois de muito tempo sem comer e sem resgate, os sobreviventes tomam uma decisão fundamental para sua sobrevivência: comer a carne dos mortos.
Mas nem toda fome é nutricional. Temos apetite diariamente mesmo sem que nossos corpos sofram de alguma carência.
Apetite é diferente de fome.
Apetite é aquela necessidade de comer para a manutenção da vida. Comer por apetite é um ato com grande influência ambiental.
O apetite muda conforme o estado emocional daquele ser. E o apetite também muda com o tipo de metabolismo daquele ser.
Observe à sua volta: eu desafio você a, rapidamente, se recordar de animais (humanos ou não) que
a) comem muito muito muito e nem engordam, parecem um saco sem fundo.
b) comem beeeem pouquinho e mantém o peso ou
c) os que comem o mesmo que um outro, mas engordam mais, são indivíduos com alta eficiência de uso de nutrientes.
você não vai demorar muito para encontrar até mais de um exemplo de cada um desses.
Animais comem por ansiedade, comem por terem um metabolismo gastão, comem por prazer, por hábito e por necessidades diversas.
Comem socialmente, ou não comem quando sozinhos, mas comem muito se acompanhados. Em casa nem comem muito, mas comem mais se estão fora.
O desejo pelo alimento é extremamente variado. Conte pra gente nos comentários qual é o apetite do seu bicho de estimação.
O tipo de alimento depende do tempo que têm disponível para obtê-lo. O que nos leva à segunda coisa que vou te contar sobre Alimentação:
Não adianta ter desejo, necessidade apenas. Alimentar-se envolve a busca pelo alimento e é aqui que entra grande parte do comportamento.
Depois de localizar aquilo que o animal deseja/necessita é hora da busca.
Caçar? pescar? Colher? Ir ao supermercado?
Plantar para colher?
Essa etapa envolve muito mais que apenas o desejo. Essa etapa precede até mesmo o desejo. Para nós, humanos, planejar faz parte de alimentar-se.
Não posso comer se antes de aparecer a necessidade eu não prever e executar algumas etapas. Humanos plantam, criam animais, são capazes de prever sua necessidade, planejar e executar. Mesmo que sejam idas periódicas ao supermercado, hortifrut, açougue, etc.
Animais não humanos na natureza caçam, pescam, coletam. Satisfazem seu apetite de forma mais imediatista, mas vivem no local onde existe alimento o que não deixa de ser uma forma de planejamento, mesmo que instintivo.
Buscar o alimento na natureza leva um tempão, estratégia, trabalho em grupo. Existe possibilidade de falha. Envolve gasto de energia, auxilia no exercício do corpo e no desenvolvimento de habilidades.
Alimentar-se não é só comer, mas um conjunto de ações que ajudam a manter a mente e o corpo ocupados e em desenvolvimento.
Busque vídeos sobre alimentação de primatas. Eles são capazes de desenvolver técnicas novas para obter seus alimentos o que implica em desenvolvimento da inteligência.
Você poderia até se indignar com essa afirmação antes de ter lido até aqui, mas agora que você já sabe que Alimentar-se não é apenas mandar o rango pra dentro, não tem como se enganar mais. Então, vamos analisar a situação da esmagadora maioria dos animais de estimação e eu digo: também dos animais de zoológico e criadores (alguns desses ambientes já se preocupam com a alimentação como um momento importante e mudaram suas práticas).
Animais de estimação sentem fome?
Depende. Existem aqueles que são maltratados e são mantidos presos, mas ninguém lhes dá alimento suficiente. Destes animais é tirado, inclusive, o direito de buscar seu alimento. Outra parte está junto de seus tutores e para eles a fome não existe. Diria até que são submetidos a uma superalimentação.
Para os animais que não sentem fome, que estão junto de seus tutores. Ainda assim existe um grande desequilíbrio: se por um lado são superalimentados com rações-bomba, não podem escolher sabor, textura, tamanho, cheiro nem quantidade. Tudo o que comem é controlado e padronizado. Isso para não entrar no mérito da origem dos nutrientes que compõem as rações, tema de um outro post. Esse animal já não busca, não rasga, não colhe, não procura, não persegue, não fica ali tentando elaborar uma estratégia para conseguir. Não comunica, não trabalha em grupo. Reduzimos essa riqueza a um pote com grãozinhos marrom-acinzentados-cheios-de-ômega-plus-protein.
O corpo precisa de uma quantidades diferentes de nutrientes para crescer, se manter, gestar e amamentar (quando aplicável). alguns desses nutrientes são armazenáveis depois de quebrados e absorvidos. Outros nutrientes são apenas lançados fora.
No caso de armazenamento, temos os carboidratos (açúcares) e as gorduras. O corpo dos animais é uma grande usina. Quase tudo pode virar quase tudo. Temos essa relação entre proteínas, gorduras e carboidratos. Uma dieta rica em carboidrato vai levar ao acúmulo se a quantidade for maior do que a que o animal vai usar durante certo período. E aí o animal engorda. O fígado acumula gorduras e para algumas espécies isso pode ser fatal.
Em geral, vitaminas e minerais são absorvidos apenas na quantidade necessária e o restante é eliminado. Rins e fígado trabalham com essa função ou o nutriente sequer é absorvido, se mantendo no bolo fecal.
De qualquer forma, quando ingerimos mais nutrientes do que precisamos, o trabalho dos rins e do fígado aumenta, pois tudo o que se come é armazenado ou eliminado quando não é usado.
O resultado pode ser:
a) gordura visceral em excesso,
b) gordura no fígado (lipidose hepática),
c) sobrecarga renal, especialmente prejudicial para animais com problemas renais,
d) sobrecarga do fígado, especialmente prejudicial para animais com problemas hepáticos,
e) cocô bastante nutritivo,
f) gasto financeiro à toa, já que estamos avaliando sempre um cenário global. Basicamente seu bicho vai defecar sua grana na melhor das hipóteses.